Um objeto cortante

Um objeto Cortante
(poesia)
Numa Editora_Brasil
2019
alguns poemas
O NÃO DITO
O não dito ocupa a casa
Um vaso de culpas decora a estante da sala
Certo desassossego serve de travesseiro na hora insone
em que fantasmas dançam sobre a cama do casal
que não se encosta
Cada um no seu canto
Toda uma vida no meio
POR UM MOMENTO
Por um momento, eu podia conquistar o mundo
Por um momento, podia fazer filmes, escrever romances
compor uma música e dançar
Por um momento, podia me tornar paraquedista, médica
salva-vidas, maratonista e professora
Por um momento, podia batalhar por um ideal
defender os indefesos, tocar um instrumento
conquistar dois continentes e um país à minha escolha
Por um momento, podia construir sonhos
um lugar para ser criança novamente
Por um momento, abri a porta e saí
Caminhei pelas ruas sem medo e pude ver beleza onde há beleza
ver tristeza onde há tristeza, ter mãos para fazer e ajudar
Por um momento, a vida foi mais que minha cabeça
mais que um quarto
E conseguir foi só um passo a mais do que ser
Foi simples como esticar os braços
para pegar o comprimido na mesa ao lado
para pegar o que pode ser meu, mas não é
Porque hoje, por um breve momento
foi vida
mas tão logo percebi
IMAGINA
Imagina
que este momento
é num dia de semana
qualquer
Uma manhã
servida na média habitual
roupa de trabalho
até mais tarde
aquela lista de pendências
carros passando
planos a caminho de
Quando de um segundo para o outro
nada mais há do que talvez
pois o som é outro:
zumbido de armas
balas voadoras
cruzam o céu de Botafogo